Estou morrendo, infelizmente, não de fato
Padeço sem inferno. Triste vago.
É tanta tristeza que não me acho
Na sombra ou no traço
Perco-me fácil
Neste labirinto circular,
Irregular da vida assimétrica.
Por que sofro assim?
Intermitente suplício.
Será que sou tão mau assim?
Estes versos naufragados
Na boca e nos dedos
Só podem chegar ao papel
Pois nada posso dizer em voz alta.
Sou um morto em vida
Por isso, invejo os mortos reais
Pelo menos estes são livres
Do fado da carne e do viver em mentiras.
Sou um pária pelos cantos do mundo
Disfarçado de poeta, disfarçado de humano,
Disfarçado em gentilezas poeirentas.
As religiões não conversam comigo
Não tenho amigos nem profetas
Vago solitário, humilhado.
Sem remédio sem solução sem lágrimas.
Observo as flores, as pequenas coisas
Escrevo palavras sem significados
E divago sobre o que poderia ter sido
Neste sonho inumano do eu reflexivo.
Perdoe-me por existir tão sem sentido,
Pois um pária apagado como eu
Não pode fazer muito mais do que isso:
Inexistir existindo no vago nada de hoje.
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