Vejo tão somente as costas com mochila
Se afastando pela tarde do caminho sinuoso.
Os passos quedam cada vez mais distantes
Da boca sem flores do caminho onde estou.
Lá se vai um amigo de uma vida inteira.
Guarda-chuva em mãos o horizonte promete
Chuva derradeira e demorada, não tarda,
Os pingos molham a terra cansada de tantas idas.
Não me lembro de abrir o guarda-chuva em nenhum lugar,
Pois há chuvas diferentes num mesmo espaço. O amigo
Não passa de um borrão. Não há certeza de reencontro.
Percebo que é hora de voltar à mesmice das horas,
Os caminhos mudam o tempo todo, quando eu sair
Desta estrada, ela já não será a mesma da despedida.
Permanece a lembrança dos sorrisos, dos tempos de alegria.
Adeus e abençoado seja, meu amigo. Abro o guarda-chuva
A sombra projetada sobre mim seguira comigo
Muito após fechado o objeto. Abafam-se os sons dos pingos,
Devagarzinho o silêncio ganha predomínio, surgem algumas estrelas em promessa.
Vou-me pela senda, sozinho, barro nos pés, saudade peito, repetindo:
Adeus e abençoado seja,
Amizade cumprida em votos.
Adeus e abençoado seja,
A família que escolhemos ser.
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