sábado, 14 de abril de 2018

POESIA - CESTA DE MAÇÃS VERMELHAS - THIAGO LUCARINI

O tamanho e as proporções
fazem o engano mais perfeito;
João Cabral de Melo Neto.

Ali tão perto do corpo
Há uma cesta de maçãs vermelhas
Tenras e suculentas, tão vivas
Tão ilusoriamente castas, perigosas,
Insidiosas e promíscuas
Atiçando minha fome e desejo.
Mas fora-me irrevogavelmente dito:
Podes comer de qualquer outro fruto menos deste.
Minha boca secou, meus sentidos morreram.

As outras coisas-frutais têm gosto de nada
As malditas maçãs rubras da cesta não murcham
Não têm grotescos vermes nojentos aparentes,
Não apodrecem, não fedem, não definham,
Burlam o tempo com uma graça não natural
E parecem a cada dia, mais gostosas.
Quanta tentação, quanto sofrimento por este
Pomo calombo incômodo no coração sôfrego.

As maçãs vermelhas e absínticas
Estão ali, ansiando meu toque sereno,
Uma mordida devassa, minha perdição.
Um teste diário de fé e obediência
Daquele que deixou a cesta de maçãs
Derredor e tão, mas tão somente proibida.
Sigo sob o signo de autoflagelo e reclusão,
Não sei até quando permanecerei imortal
Preso nestes quilates de metros quadrados
Deste jardim da Criação primordial.

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