sexta-feira, 28 de novembro de 2014

POESIA - MAQUINÁRIO HUMANO - PETER PIRES & THIAGO LUCARINI



Gente que ama e condena
Pela simples cor da pele
Como se ela determinasse índole
O tom é um dom.
Gente que me odeia
Ou me respeita pela minha fé,
Como se Deus fosse múltiplos e,
A crença alheia um pecado imperdoável,
Gente que me odeia por minha idade
Como se velhice
Fosse sinônimo de inutilidade.
Gente que me ignora pela nacionalidade,
Caráter ou sinceridade.
Só sei que o amor
Dentro do meu peito
Deveria ser mais importante do que
‘com quem me deito’
Desde que aja amor,
Ele ou ela não tem distinção.
Gente que põe entraves no meu caminho
Impedindo-me de crescer, e
Encontrar minhas flores.
Não é fácil agradar a todos,
Nem isso eu pretendo,
A única coisa que desejo
Chama-se respeito e,
Ter o direito de viver
Como eu bem entender
Sem nada dever
Seja eu como for.
A você que me condena
Tenho uma pergunta a fazer
Ama quem afinal?
O falso, a mentira, o fantasma?
O mito de perfeição?
A pessoa ou sua representação?
Não me torne um renegado, fora da lei,
Por sua insensibilidade afetiva.  
Sempre existirão aqueles a implicar
Por ter: sardas, usar óculos
Por ser: branco, preto, índio, estrangeiro,
Gordo, homossexual, casado, solteiro,
Pobre, feio, velho, santo ou pecador.
Temos a bênção de sermos únicos,
Porque então da padronização imposta,
Como se fôssemos peças,
Em escala industrial,
Esquecemos que o maquinário humano,
Está quebrado e,
Portanto, não faz dois seres iguais.
Tiram-se as virtudes e defeitos
Sobra: o humano.
Precisamos apenas lembrar
Que a poética da vida
Reside na diferença e
Que cada um
Precisa se achar verdadeiramente
Embaixo da própria pele.


NOTA: Num tempo onde ser diferente é feio precisamos achar nosso próprio caminho de aceitação e coragem dentro do Maquinário Humano.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

MINICONTO - MERCADO NEGRO DE ALMAS - THIAGO LUCARINI



Dois velhos senhores conversavam deliberadamente sobre o preço de suas mercadorias. O mais velho disse:
— Por cada uma destas belezinhas, meu reino todo estremece em trinados de felicidade.
O segundo homem, ligeiramente mais jovem que o primeiro falou:
— O entendo perfeitamente, porém gosto delas sem toda a beleza e perfeição que você exige, no meu reino elas são como são.
— Não é bem assim, não precisa mentir. Nossa disputa é escancarada.
O homem riu e disse:
— Nosso celeiro é o mundo, e continuaremos a garimpar nossas preciosidades, cada um com sua preferência. Você gosta das mais puras e belas, e eu me contento com as quebradas, que não possuem tanta glória.
— Cuidado, eu posso consertar o que foi quebrado, e levá-las comigo.
— Isso é o que veremos — disse o outro homem calmamente.
Depois de mais um dia de fortes negociações, os dois homens se retiraram do estabelecimento, e cada um seguiu o seu rumo, indo descansar em suas respectivas moradias. Sendo o amanhã, um novo dia de trabalho, no mercado negro de almas, para Deus, o homem mais velho, e o Diabo, o outro.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

POESIA - PERFUMES, EMOÇÕES E AFINS - THIAGO LUCARINI




O coração é um grande chefe.
Um cozinheiro que acerta e
Também gera bagunça.
Alquimista dos sentidos gustativos,
Usa os temperos da vida e
Faz de si
Sua própria panela de experiências.
Ora a depositar sal e açúcar,
Equilibrando sentimentos
Confusos e extremos,
Deixando-os agridoce.
Quando tudo parece sem graça,
Ele coloca um pouco de gengibre
Ou wasabi em tom de provocação.
Do oriente traz a canela mística
Para aquecer almas apaixonadas
Sem jamais perder o deleite.
Usa paixões diversas como curry,
Açafrão; ouro fino e colorau dão as cores
E o tom do apetite sentimental.
Rega tudo a vinho, louro e
Cebola de lágrimas, ás vezes,
Aromatizando a existência.
Põe louro, coentro, salsinha,
Manjericão e orégano.
Refresca com hortelã e alecrim
A salada dos prazeres eternos.
Cravo nas iguarias exóticas e
Uma pitada de noz moscada.
Termina com pimenta,
Para atiçar os sentidos e
Desejos dos amantes.
A pele e a língua incendeiam-se.
Igual varinha de condão,
Todo alimento se transforma
Com a devida paciência.
Acende o fogo,
Prepara os pratos,
Dispõe os talheres,
Enchem-se as taças,
Coloca-se a mesa da vida,
Luz de velas,
Pétalas de rosa vermelha.
Perfumes, emoções e afins.
Faz-se uma grande sopa de experimentos e
Sacia-se da fonte coração.
Nós humanos hospedeiros do amor,
Temperados pelas mãos do habilidoso chefe,
Acharemos sempre novos sabores
Perante a vida.
Venha!
Não tenha medo.
Brindemos ao viver!
Sente-se e sirva-se.
Aproveite as especiarias.
Prato do dia:
O amor.
E de sobremesa:
A felicidade.


AGRADECIMENTO: Este trabalho poético não existiria sem a colaboração fundamental da escritora Evelyn Postali (seu trabalho é genial, procurem!). Meu muito obrigado pela inspiração e ajuda dispensada em Perfumes, Emoções e Afins.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

POESIA - SOL ADORMECIDO - PETER PIRES & THIAGO LUCARINI



Fatalmente moralista,
O padre vestiu a batina e,
Incendiou-a no pecado,
Todavia, saiu ileso,
Afinal é um Santo Homem.
Eu por outro lado,
Sou falho, feito em pedaços,
Como um pequeno sol adormecido,
Buscando seu brilho,
No horizonte infinito,
Ah Deus! Salve-me,
Leve de mim todo o mal,
O fardo,
Não deixe que minha cruz,
Envergue minhas costas,
Não me abandone a sorte da sepultura,
Permita-me refletir o meu melhor,
Desperte sol adormecido,
Não seja um fantasma agourento,
A arrastar a unha grosseira,
Na alma trincada.
Nuvens negras tristes me cercam,
Não vou aceitar que estou ,
Destruído,
Irrecuperável ,
Ainda não estou totalmente perdido.
Preciso me reerguer,
Juntar cada pedaço meu ,
Fazer renascer em mim,
Um, outro ser,
Numa alma renovada,
O tempo urge!
Serei eu capaz?
De alcançar a porção de sol que eu mereço?
Brotará de mim esse meu sol?
Essa luz,
Esse calor,
Essa vida ,
Que tanto quero alcançar?
Não irei parar de lutar,
Até conseguir,
Não irei parar,
Fintarei minha morte precoce,
Essa morte que mata,
Mas nos deixa vivos,
Cambaleando,
Nos trilhos da vida,
Sem sentido,
Sem propósito,
Vivo mas morto,
Interiormente.

 OBS: A busca existencial é uma procura intermintente; sonhos e decepção nos cercam como um oceano profundo, mas o que faz tudo isso valer a pena? Quando encontraremos nosso sol adormecido e despertaremos com ser único e brilhante?