quinta-feira, 18 de junho de 2020

POESIA - POSTES DE LUZ - THIAGO LUCARINI


O poste vivia solitário.
Acreditava existir
Espaço demais
Entre ele
E seus vizinhos.
O poste nunca
Era visitado
E nunca visitava.
Não recebia ou dava
Bom dia ou boa noite.
Seus semelhantes
Eretos e altivos
São duros e frios.
Mal se ligavam por fios.
Podia fazer chuva,
Sol, nenhum dos dois,
Ficar doente, estar sadio.
Nenhuma boa política
Amenizava aquela
Distância imposta.
Apesar de os postes
Serem de Luz
Tinham condutas
Escuras e avessas.
Mesmo nas noites
Quando um poste
Ficava sem luz
Outro jamais
Visitava aquele apagado.
E não existe maior
Tristeza a um poste
Que não ter luz.
Nada os compadecia,
Nada. Aos postes
Solitários, não resta
Muita saída
Têm que se contentar
Com algum humano
Usá-los de encosto,
Um pássaro
Fazê-los de poleiro
Ou esperarem
O carinho quente
Do xixi de um cachorro
Ou mais asperamente
Um carro mandá-los aos céus
Livres dos seus.
Dos outros
Estes são os afetos mais gentis
Que podem os postes ansiar,
Pois com seus iguais
Continuam a ter
Milimetricamente
O disposto espaçamento,
Afinal, fincados em sua convicção
Nada podem fazer.

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