sábado, 14 de fevereiro de 2015

ARTIGO - PASTOREIO NO LODAÇAL - THIAGO LUCARINI





Deus não deseja um rebanho cego, pois a cegueira levará as suas ovelhas a caírem do penhasco encontrando a morte e o inferno tão temidos. A Bíblia não é um cabresto ou mordaça, muito menos instrumento de hipnose galinácea, mas sim, uma ferramenta de liberdade, arrombadora de correntes e grilhões. Quem faz da fé um chicote contra a humanidade não tá lá muito certo, pois ela não foi feita para mutilar.
Vomitar doutrinas dogmáticas inflexíveis e cruéis impunemente na água dos inocentes tolos devia ser considerado um ato terrorista contra o direito humano, afinal, na atualidade, não há nada mais ferido e violado que o livre-arbítrio, ele foi da concretude famélica a utopia quimérica, pobrezinho, definha, padece na escuridão do inaceitável, deram-lhe sua sarjeta suja e não há um habeas corpus para soltura a vista.
Muitos fazem da religião um lodaçal denso e traiçoeiro, isso certamente é um pecado abominável e a brecha do diabo, a maçã do seu jardim. O homem confecciona seu próprio inferno, dando ao demônio os meios para combatê-lo como um verme insignificante incapaz de fazer metamorfose, incapaz de construir suas próprias asas, mas autodidata em sua singularidade natural, animal e impecável em queimar-se nas chamas da opressão retalhadora. O Inimigo só reflete e usa o que ofertamos, tarjado como O Grande Mal, mas no fundo chama apenas: EU.
Vender Salvação é um negócio lucrativo no mercado de almas, o Templo virou um circo dos horrores, palhaços digladiam entre si coloridos e pomposos prontos para devorarem o maior número de crianças de olhos rasos. Fazem ‘Deus’ um espetáculo forjado, a Igreja serve ao homem e não ao seu objetivo inicial ou Pedra Fundamental. Levamos gato por lebre, Santa Hipocrisia Humana por Paraíso, haja heresia; abram as portas da Redenção, todavia, mãos tolas perderam a chave casta: o amor. Em busca de ouro e glória.
Os Líderes agem como anticoncepcionais do pensamento e conhecimento, confeccionando rebanhos, e só. Vestem armaduras de moral reluzente por fora, mas enferrujada por dentro. O Milagre verte sangue. O socorro tão esperando não foi solicitado, pois o ramal do Céu foi cortado, não pagaram a conta. 
 A Santidade, a honestidade e os missionários fiéis entraram em extinção. Os Santos lamentam, perdeu-se o prumo limpo e altruísta da fé de outrora. Massificados somos apenas ovelhas primitivas e cegas, tomando fé a conta-gotas ou em pílulas diárias e mesquinhas. O púlpito virou Casa de Penhores e Embargos do Firmamento, tendo como principal associado o Inferno. Deus deixou de ser imensidão e ao pó voltou.
As pessoas esquecem-se que a ousadia do ensinamento de Jesus Cristo, entre outros profetas, consistia em não ter amarras ou julgamentos, Ele não pedia nada além do amor incondicional ao próximo. O Espírito Santo é conforto, auxílio e sabedoria, entretanto, o menosprezamos ao escolhermos espinhos e estupidez. Jorra fogo, porém não do purgatório, mas da ignorância. A força celestial sempre residiu na bondade e respeito a si e ao outro. Contudo, devido ao pensamento quebrado implantado vemos na falsa luz, esperança, porém enganados, morremos como mariposa atraída pela lamparina sedutora. Não distinguimos mais o Original do banal.
Cansa-me estes Evangelistas que pregam a Palavra com o martelo da arrogância, sendo que o próprio Nazareno foi suave e gentil. A prepotência e o ego falho derrubam as paredes da edificação-religiosidade, por isso, Igrejas caem a todo instante sopradas pelo Lobo Mau, homens se fazem deuses sem buscar uma ligação com Deus, e fatalmente igualmente despencam, sua fé de cera derrete ao sol da verdade inexpugnável, e assim o mal prevalece.
Extremismos só nos levam as margens e as margens só dão a beira de precipícios, é preciso bom-senso para achar o caminho do meio. Pode ser que seja à hora de abrir uma exceção. Talvez essa seja uma grande parte da quase impossível missão de encontrar o Céu dentro e fora de nós. 

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