Era dia de eleição no
inferno. Gustavo vacilou diante da urna. Teria que colocar um dedo na boca de
uma sanguessuga vampiresca, deixá-la beber uma gota do seu plasma e induzir sua
vontade através do pensamento. Um painel contabilizava os votos. Gustavo tinha
que escolher muito bem, o Eleito, ou ele perderia os poucos direitos que
exercia e padeceria nos abusos punitivos. Deveria selecionar o menos pior
dentre os infernais. Tentar acreditar numa esperança inexistente. Independente
de quem vencesse, todos estariam suspensos de castigos por um ano. Mas como
seria pelo próximo milênio? A urna viva, sedenta o olhava impaciente. Gustavo
era um fiel na crença de que na dor não há glória, a urna que esperasse. Sua
eternidade estava em jogo, por mais que todos os candidatos ora ou outra se
repetissem. A escolha não era real e estava ciente daquilo que viria. O voto
era uma esperança onírica e leviana, ou seja, só mais uma punição disfarçada de
prêmio. Gustavo colocou o dedo na boca da sanguessuga demoníaca. Ele era a
última alma a votar no status quo do submundo.
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