Era tarde. Diogo,
como doutorando em entomologia, ficou para terminar de catalogar os insetos que
chegaram. Sonolento, manuseava um Bocydium Globulare, um inseto brasileiro esquisito, parente da
cigarra, que estava mais para um pesadelo ambulante. Diogo pregado do dia
exaustivo acabou dormindo sobre a bancada, e sem perceber, espetou-se nos
processos espinhosos do Bocydium. Antes de amanhecer, o biólogo acordou
com uma tremenda dor de cabeça, levantou-se e bateu as costas no armário, o que
era impossível. À meia-luz do ambiente, viu sua imagem refletida nos imensos
painéis de vidro das coleções, não pôde gritar. Seus olhos tinham uma coloração
amarelada com pupilas horizontais como os das cabras. Sobre sua cabeça havia uma
crista bifurcada espinhosa com bolas peludas, na parte de trás dela, uma
espécie de ferrão espiculado descia até pouco abaixo dos seus joelhos. Do seu
dorso pendiam asas translúcidas e pares extras de patas saíam de debaixo dos
braços. Sua boca era agora um longo probóscide. Diogo era uma aberração
repugnante. Se pudesse, teria chorado feito um humano.
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