domingo, 26 de julho de 2020

POESIA - ONDULAÇÕES - THIAGO LUCARINI

(Pintura: Tomasz Alen Kopera)

Gostaria de recuar como as ondas
Para me reconstruir em grandeza,
Voltar para dentro de mim se algo deu errado
E neste arrasto levar alguma conquista
De uma tentativa falida além da força aplicada.
Mas como humano e inflexível
Quebro-me na ilusão da areia, e ali,
Eu fico remoendo expectativas,
Ao invés, de regressar feito espuma
A algo maior e substancial como o oceano.
Minhas águas não têm ossos, e por isso,
É meu hábito me desfazer no raso.

sexta-feira, 24 de julho de 2020

POESIA - FRAÇÃO - THIAGO LUCARINI

(Pintura: Tomasz Alen Kopera)

Eu queria ter a paz
De te deixar onde você está,
De não voltar todos os dias
Aos pés da sua lembrança
E perturbá-la em sua quietude,
Quebro sempre as águas
Deste lago de incertezas
Só para imaginar se de alguma forma
Em alguma fração de hora
Você tira a paz
Da minha lembrança em ti.

quinta-feira, 23 de julho de 2020

POESIA - O AMOR E AS PEDRAS - THIAGO LUCARINI

Aprendi a amar
Contando pedras.
É da natureza delas
Serem duras e sem par.
Cortei meus dedos
Amaciando a carne
E a própria pedra em mim,
Para as pedras contadas
Jamais fui água,
Pois continuam duras
Além de toda tentativa,
Restou-me não ser igual.

POESIA - A FLOR CHORA UMA LÁGRIMA QUE NÃO É SUA - THIAGO LUCARINI

O dedo não tem culpa
Do caminho que o levou ao espinho
Os olhos não estão no seu domínio,
Cego obedece a brevidade do toque
Não difere a verde agulha da pétala.
Pobre dedo mandado ao abate
Da despreparada curiosidade.
Verte da sua carne o rubro perfume
De uma lágrima escarlate caída
Sobre a pureza de uma frágil flor.
De lição, mesmo sem plena visão,
O dedo guardará a dor de um caminho
Que não deve voltar a traçar jamais.

terça-feira, 21 de julho de 2020

POESIA - IMAGEM SEM PAZ - THIAGO LUCARINI


(Pintura: Tomasz Alen Kopera)

O silêncio nunca é paz
Para quem tenta entender a si próprio.
Nenhuma palavra é casa derradeira
Algumas podem dizer o que sinto hoje,
Mas amanhã tudo em nós terá mudado
Não seremos os mesmos jamais,
Eu e a palavra, pois fluiremos
Em silêncio formando tempestades.

POESIA - POUSO - THIAGO LUCARINI


(Pintura: Tomasz Alen Kopera)

Onde meus sonhos deitam
Não há sono que os erguerão
Ao patamar de nova realidade.
Lençóis são mares cheios de marés traiçoeiras
E a cama é só mais um reduto de perdição.
Onde meus sonhos deitam
Perece toda minha ação.
Se não abro meus olhos à luz
Não só minhas noites são escuras,
Mas toda a vida.

POESIA - CEMITÉRIO DOS INFINITOS - THIAGO LUCARINI


(Pintura: Adam Burke) 

Existem sentimentos
Que são eternos, pois estão
Enterrados na carne do dia.
Ás vezes, eles passam despercebidos
Devido ao silêncio no tempo e das palavras,
Mas basta revirar um pouco a terra
Para poder ver suas faces brancas
Nuas nunca completamente dissolutas
À espreita
Quase vivas
Quase mortas
Eternas.

quarta-feira, 15 de julho de 2020

PENSAMENTO: SONHO E DESEJO - THIAGO LUCARINI

Ao homem
só permitido sonhar
de olhos fechados.
Todo o resto
que acontece
de olhos abertos
é desejo.

POESIA - AQUILO QUE NUNCA SE VAI - THIAGO LUCARINI


(Pintura: Tomasz Alen Kopera)

O fogo na foto
Apaga a memória do papel
Meu coração em cinzas
Olha para o mundo
Como quem acredita
Que o passado é fato.
Mas ambos sabemos
Que dentro daquele monte de cinzas
Existe uma fênix em renascimento.

terça-feira, 14 de julho de 2020

POESIA - INSPIRAÇÃO - THIAGO LUCARINI

Feito um fantasma
De sentir oculto
A lírica sussurra
Em meus ouvidos
Palavras que desconheço,
Vidas das quais padeço.
A poesia é essa alma externa,
Memória das eternidades inesperadas,
Longe, mas ao redor, a traduzir o mundo,
E me ditar aquilo
Que só os seus olhos etéreos
Percebem de tudo, e assim,
Expurgar o pecado do ordinário.

domingo, 12 de julho de 2020

POESIA - INGENUIDADE DA FLOR - THIAGO LUCARINI

(Pintura: Tomasz Alen Kopera)

Eu quis ser flor no seu jardim.
Erro adubo da minha ingenuidade
Pois toda flor cedo ou tarde
Acaba por ser cortada
Para ser puro enfeite.
Isso é o raso do sentir
Querer ser descartável
E não alguém estável
De profundidade e raízes.
Ao ser flor morri em mim
Vezes demais, por isso,
Jamais, nunca mais, flor.

sábado, 11 de julho de 2020

POESIA - ÁCIDO AZUL - THIAGO LUCARINI

(Pintura: Brad Gray)

Há buracos demais no meu céu,
Ausência de astros de enfeite
A linha do horizonte é fina ferida
A devorar possibilidades do tempo.
Meu céu é vasto e desértico,
Não há pássaros, qualquer elemento
Além de um tom monocromático.
Decompondo num ácido azul meu céu
É uma sustentação inútil
Incapaz de abrigar minha alma.

quinta-feira, 9 de julho de 2020

POESIA - MÃOS - THIAGO LUCARINI

mil mãos não têm
o toque das tuas.
minha pele tem claro sinal,
caminho traçado, leitura habitual.
outro toque não tem
a mesma ilusão ao seguir
o encanto já trilhado.
é a pele sedenta pelo ser criado,
a figura idealizada.
é a saudade em mim
que me faz negar de antemão
outras tantas mãos.

POESIA - RIO RIO - THIAGO LUCARINI

(Pintura: Tomasz Alen Kopera)

já não sei ao sol
se rio
se sou rio
que raio faço?
impera a dúvida
se rio além do frio
sou força ou fracasso?
se sou rio acho fio de condução
e navego para longe dos outros sem riso,
mas para dentro de mim rindo.
se rio sou rio!?
ou nada disso?

segunda-feira, 6 de julho de 2020

POESIA - LEITO DE CONFORMIDADES - THIAGO LUCARINI

(Pintura: Tomasz Alen Kopera)

Como um rio
Sigo um caminho
Feito de erosões,
Buracos deixados
Por outros (tempos).
Cabe a mim a forma
Da estupidez deste agora.
Minhas águas seguem,
Descem e sobem e voltam
Sem qualquer fuga óbvia
Deste leito de conformidades.

quinta-feira, 2 de julho de 2020

POESIA - HORA AZUL - THIAGO LUCARINI

(Pintura: Brad Gray)

Vago pelas horas
Como quem navega em alto mar,
Tudo é azul a minha volta,
Água infinita, horizonte a perder de vista
E o sol é só outra estrela qualquer.
Tudo escorre em ondulações
E nada fica nada fixa nada salva
Ninguém para ser ilha.
Velejo por horas contadas
Ao contrário das águas.

quarta-feira, 1 de julho de 2020

POESIA - PENA MAIOR - THIAGO LUCARINI

(Pintura: Tomasz Alen Kopera)

encarcerado
houve um tempo
em que meus pensamentos
só sabiam ler você,
era em mim
uma memória onipresente
sem você estar sequer ciente.
hoje, como castigo maior
concedo a ti, a pena
Do esquecimento,
pois é sua vez de estar preso
a algo sem sentido.