segunda-feira, 28 de outubro de 2019

POESIA - JÁ NÃO SOU MAIS CHUVA - THIAGO LUCARINI

conversei com a chuva
sobre as lágrimas que um dia derramei.
ela me disse que nada poderia me dizer,
pois água que cai
não fala sobre água que cai.
então sob a chuva,
eu redundante, chorei.
e, ali, nos teus braços de final de tarde ouvi:
"agora fazes parte de mim
e tens todo o entendimento
destes corações que se derramam
em excesso com esperança
de serem Sol."

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

POESIA - AGUADO - THIAGO LUCARINI

tem amores que escorrem entre os dedos,
pois não têm substância, consistência,
são falhos pela primeira natureza.
estes amores ralos e aguados
são pobres fantasmas diáfanos
capazes de assustar, mas de jamais
matar a sede, de ser pouso, morada.
estes amores num curto espaço de tempo
servem, porém a longo prazo, matam
por não reterem força de vida.

POESIA - OFERENDA - THIAGO LUCARINI

saio de você como um rio
que recua dos braços do mar,
que prefere secar e se extinguir
a ser parte de um todo estéril.
as flores que um dia joguei
como oferenda ao a(mar)
hoje sepultam meu eu à deriva.
não me afogarei nas suas dores
ou mesmo nas minhas, antes serei
chuva, nova água, outro ciclo de vida,
pois sou rio que recua, mas o sorriso jamais.

sábado, 5 de outubro de 2019

POESIA - COMPASSO - THIAGO LUCARINI


Gostaria de marcar o tempo
Feito um relógio
Duro, estável, mecânico
Onde cada pulsar é apenas
O passar regular do ponteiro.
Mas pela tragédia de ser humano
Marco o tempo pela lembrança,
Aspecto falho deste eu não dissociável
Do ponteiro, ao qual, meu coração obedece.
Enquanto o relógio tem uma prisão
Simples e limpa, de falência estabelecida,
A minha é colorida, mística,
E cheia de ilusão sobre este existir.

POESIA - MULHER DE ÁGUA - THIAGO LUCARINI


A água que escorre
Pelo teu corpo tem de ti
Aquilo que eu jamais terei.
Talvez, eu junte toda esta água
E te dê a forma do meu coração,
Assim eu terei nesta mulher de água,
Translúcida e diáfana, o amor
Impalpável que de ti nunca beberei.